quinta-feira, 15 de julho de 2010

Me dê sua mão


“Agora preciso de tua mão,
não para que eu não tenha medo,
mas para que tu não tenhas medo.
Sei que acreditar em tudo isso será,
no começo, a tua grande solidão.
Mas chegará o instante em que me darás a mão,
não mais por solidão, mas como eu agora:
Por amor.” Clarice Lispector

Identificar-se com as palavras de Clarice já é clichê, portanto, vou pular explicações do porque estou começando com uma fala dela.
Inúmeras pessoas me vieram à cabeça quando pensei em escrever sobre esse trecho acima. Creio que muito do que andei vivendo até hoje me fez perceber o quanto eu já estendi a mão ao próximo, seja por amor ou simples compaixão. Tenho amigas hoje que, são amigas porque a um tempo atrás tudo se deu início devido a uma aproximação assim, baseada na ajuda, na cumplicidade, no ombro amigo. Todas as pessoas da minha vida já ganharam de mim certa atenção que se fazia necessária quando mais precisavam de um colo, de um porto seguro. Assim sou, mesmo quando a pessoa ainda não sabe, ou ainda nem se depara com problemas, lá estou eu, segurando firme nas mãos de quem penso que precisa, merece e gostaria da minha presença seja em um momento bom ou ruim, seja por amor ou simplesmente carinho e bondade.
Mas, não quero falar de mim. Quero falar de você. Você que nem sabe que escrevo por ti. Você que à uma hora dessas não deve nem pensar em lembrar de mim como me pego fazendo às vezes. Pode parecer loucura, ilusão ou até um sonho bom, mas eu sinto que te conheço através de todos os defeitos que você me apresentou e me fez assim apaixonar. Sim, isso mesmo. Apaixonei-me primeiro por seus defeitos e agora tenho ânsia de conhecer suas qualidades. Vejo em seus olhos um mistério que se esconde em meio a tantas façanhas que você já considera parte da sua vida. Essa mania de viver a diversão sem necessidade de dar satisfações virou sua rotina. Imagino o quanto seja bom e mais fácil viver na liberdade de sentimentos e escolhas. A ideia de alimentar a expectativa de alguém em relação a você te assusta e te leva pra longe de qualquer aproximação. Viu como sei bem interpretar o seu silêncio e falta de atitude? Quanto menos você fala de você, mais eu sinto o seu medo. O receio de compromisso, de ser lido, de ser amado, faz de você um fugitivo. Você se esconde dentro de si mesmo e tranca todas as portas e janelas. Você sabe que sendo reservado acaba não dando espaço para que suas conquistas de uma noite só criem esperanças. Só que você mexeu comigo e não percebeu que eu sou diferente. Você mexeu comigo ao ponto de me dar a chance de sentir que minhas estruturas foram totalmente abaladas, sendo assim, nada me impediria de te querer novamente, nem mesmo a sua falta de perspectiva. Aos poucos o destino se fez meu alido, e para nossa surpresa, passamos a ter novas chances e novas noites. Seu mistério, seu charme, tudo que você me apresentou, mesmo sendo pouco, só me deixou com mais vontade de você. Sua reserva não funcionou comigo. Seu mau caráter também não funcionou comigo. Seus erros não fizeram efeito, pois, meu perdão é 100% presente. Seus defeitos e quaisquer tentativas de me mandarem embora, seja consciente ou inconsciente, deram errado. Aqui estou boba apaixonada, esperando sentada, mas esperando. Não desisto daquilo que tem magia a meus olhos, vontades, reações e sentimentos. Já me conformei com a ideia de ver uma porta trancada a sete chaves entre nós, mas não me conformarei em ter que desistir sem nem ao menos lhe conhecer e saber que então não teriamos uma chance porque não combinamos. Como disse Clarice Lispector, preciso da sua mão, mas não por medo meu, e sim para evitar o medo seu. Pode parecer sem sentido pra você, talvez você pense que sou uma obsessiva, uma maluca, lunática, que alimenta amor platônico, mas bem no fundo eu sei que você também sabe do que acontece entre nós. Mesmo que ainda não seja tão fulgaz, nem tão visível, mas já existe, e por menor que seja qualquer mera semente sempre tem chance de brotar. Então que assim seja. Demore o tempo que for, sua solidão tem os dias contados. Não cheguei até sua porta para desistir, se necessário eu pulo uma janela, se existir alguma aberta, mas saiba que desistir sem tentar não é de mim. E se for necessário o Adeus, antes eu quero entrar e descobrir sozinha que não era nada do que eu imaginava. Renda-se, permita-se... Uma hora ou outra você vai alcançar minha mão e vai segura-la por vontade própria, e não só porque eu insisti, mas sim porque você verá que se eu estive aqui ainda todo esse tempo é porque é de verdade o que acontece entre nós. Não era isso que você me disse um dia que queria saber? Se era real? Então... Eu não estaria lutando para fazer diferença se eu já não soubesse ler em você a reciprocidade que existe, mesmo que ainda pequena. Me dê sua mão, que o resto o amor cuida pra gente!