sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O certo


Dia após dia, lá estava ela. Sentada na areia, admirando o céu e vasculhando o mar em busca dele. Depois do primeiro beijo entre eles ela só sabia da certeza que seu coração lhe dava. E ela sabia que ele sabia. Ela não tinha expectativas, ele não lhe deu motivos pra isso, mas ela tinha esperanças, sua intuição lhe deu certezas.
Mas naquele dia tudo estava diferente. Não só pelo calor maior da atmosfera, mas também pela aflição gigante que ela sentia tomar conta de si. O medo pelo tempo que corria e não lhe garantia nada. Seu coração doía cada segundo mais. Ter encontrado-o, mas não poder tê-lo, era dolorido. Uma dor que aumentava conforme ela insistia na rotina de todos os dias ao se contentar apenas em olhá-lo. Aquele dia não só estava como foi diferente.
Seus olhos sempre demonstravam firmeza, ela mantinha-os em cima dele a qualquer circunstância, como se fosse uma câmera registrando todos os detalhes de um filme que deveria ser visto depois inúmeras vezes. E ele sabia disso. Mas naquele dia ela largou o automático. Largou a firmeza. Permitiu-se exalar a dor. Ao invés de acompanhá-lo com os olhos enquanto ele saia do mar, ela simplesmente os abaixou em direção aos pés que brincavam aflitos com a areia. Deixou que as lágrimas escorressem silenciosamente. O que ela não esperava era que enquanto sentia o gosto salgado da dor, ele caminhava em sua direção...
Ele se ajoelhou a sua frente o mais próximo que pôde. Ela não teve tempo de entender o que estava acontecendo, muito menos de esconder as lágrimas. Ele sabia, sempre soube. Tocou-a suavemente no queixo e levantou seu rosto até a direção de seus olhos. Envergonhada e confusa, ela não conseguiu retribuir o olhar, abaixou os olhos e sentiu mais uma lágrima escorrer em sincronia com seu coração que acelerava cada segundo mais. Ele se aproximou dela. Ela sentia seu cheiro e ficou imóvel. Ele roçou seu nariz no dela. Ela sentiu uma onda de calafrio percorrer todo seu corpo e fechou os olhos desistindo de entender aquele momento. Calmamente ele elevou o rosto e beijou a pálpebra de um dos olhos dela. Completamente mais confusa ela sentia a umidade de seus olhos molharem a boca dele. Ela abriu os olhos e envergonhada olhou pra ele. Ele sabia que ela queria uma resposta. E então ela ouviu:
“Eu queria sentir o gosto da sua tristeza. Queria compartilhar disso, pra que possa diminuir.”
Ela sorriu, sorriu de felicidade e sentiu o coração aumentar de velocidade mesmo acreditando que não tivesse mais como. Suavemente ele tocou seu rosto e enxugou suas lágrimas. Ela continuava sorrindo, sentia dentro de si a felicidade tomando lugar da tristeza. Ele olhou fixamente pra ela, segurou-a firmemente pelo rosto e tocou seus lábios no radiante sorriso que ela lhe lançava. Ainda confusa, mas cada minuto mais otimista, ela tirou o sorriso do rosto e olhou bem pra ele. Ele sabia novamente, ela queria outra resposta. E então ela ouviu:
“Eu queria sentir o gosto da sua felicidade. Queria compartilhar disso também, pra que possa aumentar.”
E então ela sabia que ele também sabia. O coração dela estava certo. A intuição dela estava certa. Porque ele era o certo. Esperar valeu à pena!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

O sonho pela metade

♫ “Como pode ser gostar de alguém
E esse tal alguém não ser seu”
(Amado – Vanessa da Mata)


Olho pra ele e vejo um sonho. Um sonho bom. Um sonho de amor. Um sonho de contos de fadas. Um sonho de anos. Um sonho enfim, realizado. Encontrá-lo foi mais do que um sonho. Encontrá-lo me provou que sonhos se concretizam mesmo que demore anos. Encontrá-lo me fez ver que acreditar é importante. Encontrá-lo me ensinou mais sobre ter esperanças. Tudo nele me faz ter certeza de que existe alguém no mundo do jeitinho que eu sempre quis, e finalmente tive a sorte de encontrar. Mesmo tendo o conhecido pouco, ainda assim percebo o quanto ele é completo e perfeito pra mim, chega a ser além do que eu planejava em sonhos. É como se eu desejasse o bom e encontrei o ótimo. Depois de muito sofrer por quem nem era tão bom pra mim, encontrar alguém que ultrapassa tudo em que eu pensava em viver, é mais do que sorte, mais do que felicidade, é quase destino, é pressa.
Um tanto quanto inconformista. Como se já não bastasse os anos em que esperei até encontrá-lo, agora tenho que esperar não sei mais quanto tempo para tê-lo. Parece desespero e acho que chega a ser mesmo. O mundo já anda tão perdido, tão desalmado que fez das pessoas insensíveis, desamorosas, desacreditadas em bons sentimentos, bons relacionamentos e almas gêmeas. Já é triste demais lidar com tudo isso e ainda lutar para não acompanhar a maioria. Considero-me então exceção, pois, acredito fielmente em amor, em pessoa certa, em bondade, paz e em tudo de bom que falta para o resto do mundo que se esqueceu ou simplesmente generalizou sentimentos, relacionamentos e até pessoas. Aquela velha história de joguinhos de sedução, de querer mas negar, de gostar mas fingir que não, de ter vontade de procurar mas esconder interesse, o famoso doce que todo mundo conhece, é algo que mesmo eu não gostando de fazer e nem de enfrentar, tive que aceitar, aprender a conviver e até a usar, praticamente uma lei de sobrevivência atual para relacionamentos. Se até hoje eu não concordo e muito menos gosto de viver isso, não será agora com meu suposto príncipe a postos em meu caminho que vou agüentar esperar.
Dói sentir que é meu, mas não é. Que é perfeito pra mim, mas não há nada que eu possa fazer para avançar etapas, para fazê-lo se sentir da mesma maneira. É como se ele tivesse aparecido na hora certa pra mim mas, eu apareci na hora errada pra ele. Incomoda perceber que os papéis estão trocados, que eu deveria estar sentada, calma, esperando ser conquistada e inversamente a isto, cá estou, com pressa, ansiosa, coração apertado, de pé pronta a correr atrás do que se mostrou ter nascido pra mim. Ter mas não ter é como tirar doce de criança. Saber que a pessoa existe, já esteve comigo, demonstrou reciprocidade e no dia seguinte tudo pareceu mudar, é aflição demais para os pensamentos. Acreditar que enfim a pessoa certa apareceu e tudo vai se encaixar numa linda história de amor, mas nada disso acontecer é frustrante. Esperar é frustrante. E a frustração faz parecer que então o sonho foi realizado só pela metade.