Dia após dia, lá estava ela. Sentada na areia, admirando o céu e vasculhando o mar em busca dele. Depois do primeiro beijo entre eles ela só sabia da certeza que seu coração lhe dava. E ela sabia que ele sabia. Ela não tinha expectativas, ele não lhe deu motivos pra isso, mas ela tinha esperanças, sua intuição lhe deu certezas.
Mas naquele dia tudo estava diferente. Não só pelo calor maior da atmosfera, mas também pela aflição gigante que ela sentia tomar conta de si. O medo pelo tempo que corria e não lhe garantia nada. Seu coração doía cada segundo mais. Ter encontrado-o, mas não poder tê-lo, era dolorido. Uma dor que aumentava conforme ela insistia na rotina de todos os dias ao se contentar apenas em olhá-lo. Aquele dia não só estava como foi diferente.
Seus olhos sempre demonstravam firmeza, ela mantinha-os em cima dele a qualquer circunstância, como se fosse uma câmera registrando todos os detalhes de um filme que deveria ser visto depois inúmeras vezes. E ele sabia disso. Mas naquele dia ela largou o automático. Largou a firmeza. Permitiu-se exalar a dor. Ao invés de acompanhá-lo com os olhos enquanto ele saia do mar, ela simplesmente os abaixou em direção aos pés que brincavam aflitos com a areia. Deixou que as lágrimas escorressem silenciosamente. O que ela não esperava era que enquanto sentia o gosto salgado da dor, ele caminhava em sua direção...
Ele se ajoelhou a sua frente o mais próximo que pôde. Ela não teve tempo de entender o que estava acontecendo, muito menos de esconder as lágrimas. Ele sabia, sempre soube. Tocou-a suavemente no queixo e levantou seu rosto até a direção de seus olhos. Envergonhada e confusa, ela não conseguiu retribuir o olhar, abaixou os olhos e sentiu mais uma lágrima escorrer em sincronia com seu coração que acelerava cada segundo mais. Ele se aproximou dela. Ela sentia seu cheiro e ficou imóvel. Ele roçou seu nariz no dela. Ela sentiu uma onda de calafrio percorrer todo seu corpo e fechou os olhos desistindo de entender aquele momento. Calmamente ele elevou o rosto e beijou a pálpebra de um dos olhos dela. Completamente mais confusa ela sentia a umidade de seus olhos molharem a boca dele. Ela abriu os olhos e envergonhada olhou pra ele. Ele sabia que ela queria uma resposta. E então ela ouviu:
“Eu queria sentir o gosto da sua tristeza. Queria compartilhar disso, pra que possa diminuir.”
Ela sorriu, sorriu de felicidade e sentiu o coração aumentar de velocidade mesmo acreditando que não tivesse mais como. Suavemente ele tocou seu rosto e enxugou suas lágrimas. Ela continuava sorrindo, sentia dentro de si a felicidade tomando lugar da tristeza. Ele olhou fixamente pra ela, segurou-a firmemente pelo rosto e tocou seus lábios no radiante sorriso que ela lhe lançava. Ainda confusa, mas cada minuto mais otimista, ela tirou o sorriso do rosto e olhou bem pra ele. Ele sabia novamente, ela queria outra resposta. E então ela ouviu:
“Eu queria sentir o gosto da sua felicidade. Queria compartilhar disso também, pra que possa aumentar.”
E então ela sabia que ele também sabia. O coração dela estava certo. A intuição dela estava certa. Porque ele era o certo. Esperar valeu à pena!
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