sexta-feira, 24 de abril de 2009

Parte XIII: O mais estranho amor da minha vida

Texto para o amores-cruzados

Já havia se passado um mês e meio e eu ainda não conseguia tirar da cabeça aquele último dia em que estive com Danton. Não sei se fiquei marcada pela tristeza ou pela dúvida. Desde aquele dia que eu tenho ido até a ponte para ver se encontro uma resposta ou uma solução. É como se eu sentisse que do mesmo lugar que ganhei algo, eu perdi, e agora novamente eu estivesse indo lá para ganhar alguma outra coisa que pudesse apagar tudo que eu estava sentindo, ou até quem sabe, arrumar uma nova motivação. Se para Danton aquela ponte serviu de busca para o que ele tanto esperava na vida, então talvez para mim também adiantasse. E foi assim que pensei todos os dias em que pisei lá. Mas eu sempre voltava para casa derrotada. Vovó sempre disse que o tempo cura tudo e nos ensina muita coisa, mas então eu estava sendo a inimiga do tempo, pois, eu não sentia que ele estava me ajudando. Cheguei até a pensar que ele me largou para trás, começou a correr sem mim e me deixou no passado como se minha cruz fosse mesmo continuar sofrendo por alguém que já devia era estar sendo esquecido.
Nem a manhã de mais um sábado ensolarado conseguia me animar. Decidi sentar um pouco no jardim em frente de casa com o Cacau, havia um tempinho já que eu não me dedicava a ele também.
O solzinha da manhã estava gostoso. Deitei na grama com Cacau do lado e quase peguei no sono. Só fui despertar completamente quando vi um carro parecido com o de Danton passando em frente a meu jardim. Meu estômago começou a remoer como de costume e já me senti abater pela tristeza dos últimos dias. Prendi Cacau na corrente e resolvi sair dali, dar uma volta talvez. Fui andando, andando... Nem me toquei do caminho que estava tomando. Eu só sabia prestar atenção nos meus pensamentos. Só fui notar onde eu estava quando Cacau começou a latir. Olhei para os lados e reconheci. Novamente, eu estava na ponte. Era como se meus pés já tivessem decorado todo o caminho e meus olhos me levassem até lá sem nem mesmo eu ter que decidir por isso. Fiquei meio assustada com minha total falta de atenção para esse fato, mas minha tristeza ainda falava mais alto, por isso não me importei. Fui caminhando até o banco mais próximo e quando passei os olhos pelas árvores no outro lado da ponte me deparei com uma sombra tentando se esconder atrás de uma delas. Fixei o olhar e tentei andar para perto na intenção de ver melhor. Cacau começou a latir e virei meus olhos rapidamente para ele para ver se estava acontecendo alguma coisa, mas ele estava latindo para a mesma coisa que me chamou a atenção. Quando olhei novamente para as árvores, a sombra havia sumido. Comecei a correr até lá, mas percebi que era inútil. Quem quer que fosse que estava tentando se esconder de mim, já tinha sumido. Subi as pressas para a ponte de novo e de lá olhei para a rua e vi o que meus olhos talvez não quisessem ver. Danton estava arrancando seu carro e saiu o mais depressa. Eu não queria acreditar naquilo. Não queria ter mais motivos pra pensar sobre aquele assunto. Parecia um imã. Sem querer eu continuava sofrendo e assim continuava a atrair essa história para minha vida.
Tentei não juntar hipóteses sobre nada do que havia acontecido dessa vez. Resolvi sair até mesmo daquele lugar e fui para casa.
Chegando... Soltei Cacau no gramado como de costume, pois dali ele nunca fugia, e me sentei também novamente até tentar aliviar um pouco a tensão e assim poder entrar em casa. Tudo bem que já não havia mais fórmula para esconder minha angústia dos meus pais e minha avó, eles já tinham notado um problema em mim, mas de qualquer forma eu não gostava de saber que estava sendo mais observada do que de costume.
Passado uns 20 minutos já que eu estava por ali, fui procurar Cacau pelo jardim, ele tinha a irritante mania de se esconder de mim atrás dos pequenos arbustos. Chamei, chamei e nada dele aparecer. Comecei a invadir os jardins dos vizinhos na esperança de encontrá-lo. Quando me virei para olhar novamente na frente de minha casa, achei que estava vendo uma sombra do passado. Eu não sabia identificar se estava com raiva ou surpresa. Parada bem ali quase na minha porta, estava Ananda. Cacau estava em seu colo e ela ainda tinha aquele ar de triunfo no rosto:
- Solta o meu cachorro.
Ela me olhava dos pés a cabeça:
- Ora, ora, ora. Ainda continua a mesma sem educação de sempre. Tome seu cachorro, não o quero, estou aqui porque preciso falar com você. E não teria vindo se não fosse realmente importante.
Ela largou Cacau no chão, mas ele se manteve perto dela. Bem que eu sempre soube que meu cachorro era burro:
- Seja lá o que você quer comigo, fique já sabendo que não tenho mais nada com Danton, não se incomode em perder seu tempo comigo.
Ananda cruzou os braços e fez cara de quem não entendia o que eu dizia:
- Queridinha, só presta atenção no que eu vou te dizer. Danton não é mais o mesmo. Nossa família está muito preocupada e precisamos dele mais do que nunca. Eu jamais te procuraria se não fosse um caso especial. Não entendo a magia que você usa para conquistá-lo, mas já que você conseguiu, então agora agüenta. Porque Danton está muito mal, ninguém consegue ajudá-lo, e eu sei qual é o problema dele. Você!
Quem fazia cara de que não entendia nada agora era eu. Eu devia estar da cor de um pastel porque minha cabeça estava rodando e eu não acreditava no que ouvia. Tudo parecia estar complicando mais do que já poderia estar:
- Ananda, eu... Não faço idéia...
Ela fez cara de brava e me interrompeu:
- Você tem duas alternativas. Ou procura Danton, ou... Procura Danton.
Enquanto ela terminava essa frase ela foi andando em direção a um táxi que a esperava do outro lado da rua. Demonstrei que queria falar e ela não deixou. Deu-me adeus e entrou no táxi que saiu rapidamente. Fiquei parada olhando a rua vazia como se ainda tivesse algo para observar. Eu não fazia idéia do que Ananda pensava que eu fiz para Danton. E muito menos tinha como procurá-lo, afinal, se eu soubesse como achá-lo já teria feito antes. Eu estava cada vez mais confusa e sem luz no fim do túnel. A única coisa que ainda demonstrava vontade de lutar era meu coração que pulava cada dia e cada vez mais em que ouvia o nome Danton.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Parte XII: O mais estranho amor da minha vida

Texto para o blog: Amores-cruzados

Eu já estava andando em círculos pelo meu quarto já fazia 1 hora. Era como se meu cérebro estivesse dividido entre o bom e o ruim. Um lado me dizia que o melhor seria me afastar de Danton definitivamente, e o outro me mandava correr atrás dele e saber tudo, de uma vez por todas. Ao menos eu poderia pedir desculpas pela minha injustiça em não ter acreditado nele. Era a razão batendo forte na consciência e o coração pulando acelerado me deixando agoniada em querer correr logo para Danton. O xérox com as identidades ainda estava em minha mão. Eu olhava para aquilo de segundo em segundo. Talvez tivesse sido melhor se tudo fosse verdade sobre Ananda e Danton, assim eu ficaria com meu posto de vítima e não precisaria mais pensar em me envolver com nada nessa história. Dei uma pausa nos meus passos e me sentei na beirada da cama perto a janela. Deixei que minha mente se esvaziasse por alguns minutos e passei a sentir só o vento balançando meus cabelos. No momento seguinte, notei que havia um beija-flor a frente da minha janela, parecia que ele me observava assim como eu fazia com ele. Fiquei impressionada com aquilo. Nunca havia visto um beija-flor tão de perto e tão imóvel como aquele ali. Era como se ele tivesse ido até minha janela pra me ver ou enviar um recado. Fiquei pelo menos um minuto imóvel olhando para ele. Assim que me movi, querendo levantar e me aproximar mais, ele voou para longe e sumiu do meu alcance. Acreditei que era algum sinal e então, lembrei novamente de Danton. Levantei-me enfim e sai do meu quarto aos tropeços. Desci as escadas como se uma cavalaria viesse atrás de mim e não me dei tempo de olhar a expressão incrédula da minha avó que estava na cozinha. Depois que sai do jardim de casa comecei a pensar onde e como eu poderia encontrar Danton. Eu não tinha nenhuma forma de contato, nada além da ponte. Era minha única solução até então, procurá-lo no lugar de sempre. Acelerei o passo e fui o mais depressa que pude. Eu não queria me permitir desistir. Já tinha chegado até ali e era o que eu devia fazer. Eu devia desculpas a Danton.
Assim que estava chegando à ponte, notei que o carro dele estava parado ao lado da calçada. Meu coração começou a pular desesperado novamente. Tentei controlá-lo, mas não consegui. Fui subindo a ponte com uma pontada no estômago. Eu não sabia o que me aguardava, só sabia o que devia fazer.
Danton estava sentado no primeiro banco próximo à outra subida da ponte. Ele estava cabisbaixo e por isso não notou minha chegada. Tinha mais umas pessoas por ali. Aproveitei que uma senhora estava andando para o mesmo lado que eu e me escondi atrás dela, fui acompanhando seus passos na direção de Danton. Tentei escolher as palavras certas que eu usaria, mas não saia nada da minha mente naquele momento. Chegando ao banco, deixei que a senhora fosse embora tomando muita distância de mim e me sentei rapidamente ao lado de Danton. Ele não parecia querer largar seus pensamentos e por isso não me notou de imediato. Sentei-me virada pra ele esperando que ele me olhasse, mas ele não o fez. No entanto, ele começou a dizer:
- Sabia que você viria. Eu poderia ter ficado aqui o dia todo a sua espera.
Eu olhei escarlate para ele como quem não queria acreditar no que ouvia. Depois de tudo, ele ainda era capaz de me surpreender mesmo com poucas palavras. Eu não esperava por tamanha compreensão. Fui pronta para me desculpar e não para ser recebida:
- Não sei o que te dizer. Queria ter as palavras certas sempre como você. Só peço que me desculpe por não ter acreditado em você. Foi por isso que vim.
E foi depois dessa minha fala que ele se virou para mim o mais depressa que pôde e me abraçou com muita força, como quem parecia se despedir de algo que nunca mais veria. Meu coração naquele momento estava ao patamar mais alto de exaltação e eu não sabia o que fazer. Talvez tenha demorado alguns segundos até corresponder aquele abraço. Envolvi meus braços em seu ombro e esperei pela próxima atitude de Danton. Queria que ele me soltasse logo para assim ele não notar meu coração saltitante, mas ele não parecia querer me largar. Senti-o encostando seu rosto no meu cabelo próximo ao meu ouvido:
- Amor, eu que te peço desculpas por todos esses mal entendidos. Você não merecia passar por tudo isso. Te encontrei no momento errado da minha vida e tomei total consciência de que não te mereço. Não por agora. Se um dia eu puder te encontrar novamente eu serei o homem mais feliz desse mundo, mas sei que nesse nosso presente eu não tenho mais direito de pertencer a sua vida. Você não precisa e nem vai mais ter que participar da minha vida conturbada. Saiba que você foi à única alegria que tive desde aquele primeiro dia que nos conhecemos e desde então eu sabia que você era a pessoa por quem eu estava procurando todo esse tempo, mas agora eu abro mão dessa alegria, pois você não merece enfrentar tudo que ainda tenho para resolver.
Desprendi-me daquele abraço e olhei nos olhos de Danton. Eu não conseguia entender o que ele dizia. Eu queria sim ter me livrado de toda aquela confusão, mas eu fui ao encontro dele, pois escutei o coração e não a razão. Por mais orgulhosa que eu estive sendo, não era isso que eu esperava ouvir. Talvez eu não tivesse pedido desculpas direito, ou então eu estava esperando de Danton algo que ele jamais tenha pensado. Mas antes que eu pudesse começar a falar, ele me pegou em seus braços novamente e prendeu meus lábios nos seus. Não consegui deixar de corresponder, mas minha vontade era de gritar ou chorar. Eu estava confusa, eu queria explicações e não ser calada por ele. Meu pensamento foi se esvaziando a medida que o beijo foi ficando intenso. Eu estava me sentindo fora do chão quando Danton me largou. Percebi que eu estava envolvida nele mais do que achei que estivesse. Seu rosto ainda permanecia a pouquíssimos centímetros do meu e ele tinha um singelo sorriso no canto direito da boca, mas seu olhar era de tristeza e foi ali que eu percebi que ele não estava brincando e nem iria mudar de idéia. Ele roçou seu nariz no meu, fechou os olhos como quem faz quando sente um perfume de uma flor, tocou meus lábios brevemente e enfim me soltou por completo levantando-se rapidamente. Olhei para ele tentando entender alguma coisa. Eu queria dizer algo, mas não sabia o que. Fiz menção de me levantar e ir com ele para onde quer que ele fosse só que ele foi mais rápido do que eu:
- Não venha Paula. Não me procure mais. Não pense mais em mim. Será melhor pra você. Perdoe-me por tudo, principalmente se te causei tristezas e problemas, mas agora tudo vai voltar ao normal pra você. Fique bem. E se um dia eu merecer e ainda souber que você me aceitaria de volta, eu te procuro. Nunca se esqueça de que eu te amo!
Senti uma lágrima escorrendo pelo meu rosto. Meu coração pulava muito e me pedia para agir, mas eu não conseguia me mover. Era como se Danton tivesse me prendido ao banco para não ir realmente atrás dele como ele havia pedido. E ele tinha feito isso mesmo, mas com palavras. À medida que ele foi se perdendo da minha visão assim como o beija-flor mais cedo, eu fui sentindo mais e mais lágrimas tomando conta do meu rosto e embaçando minha vista.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Axé na veia

Sabe aquela sensação de borboletas no estômago, vontade de gritar sem motivo, arrepios constantes, sorriso besta estampado na cara 24 horas, mãos suando, ansiedade, pressa com o tempo que não passa, olho cheio d'água a todo instante que uma música toca? Então... Esses sintomas são um dos principais que tomam conta de mim quando a doença do axé se aproxima. É uma febre que chega a ser contagiante. É uma sensação que ninguém entende. Todos que tentam compreender acabam dando como caso perdido e titulam essa minha reação como loucura ou exagero. Dá até uma tristeza perceber a insensibilidade de muitas pessoas. Pode ser loucura pra uns, exagero para outros, mas para mim significa muito mais do que possam imaginar. É algo incontrolável que toma conta dos meus pensamentos, é uma felicidade que invande meu ser, uma vontade maluca de sair pulando que nem pipoca, o coração é movido a esse estilo de música que tanto me fascina. Chega a ser crueldade ter que saber de festas relacionadas ao axé e não poder ir, enquanto outros que nem curtem, tem a chance de ir simplesmente pelo motivo de acompanhar a grande maioria ou pra beijar na boca, o que é pior ainda. Não julgo o comportamento dos outros, tão pouco me importo com o que cada um faz por lá. Minha única revolta é com o fato de eu estar em casa enquanto outros que nem entendem o axé estão lá desperdiçando dinheiro e tempo. O axé é mágico. Ele embala minha vida, me dá alegria até nos meus piores dias. Axé pra mim é coração, emoção. As festas de axé são o meu lugar, o meu melhor lugar. Arriscaria até dizer que é para mim o melhor lugar do mundo. Ali eu me encontro, me encaixo, pinto e bordo, sozinha ou não. O axé me trouxe amigos, me trouxe histórias verdadeiras, me trouxe motivos para sorrir, me trouxe ídolos principalmente, me trouxe paixão, me trouxe a dança e me trouxe mais do que nunca, os melhores dias da minha vida. Está enganado quem julga que o axé é incapaz de criar isso em uma pessoa. Está enganado quem julga que tudo isso é exagero. Quem julga, estará sendo injusto. No mundo existe lugar para tudo e todos, diversidade é livre. O axé tem lugar no mundo, tem lugar verdadeiro nas pessoas que enxergam como eu. O axé é uma das melhores batidas do meu coração. Por mais que eu falte nas festas em que o axé se apresenta, jamais deixarei de tentar alcança-lo, onde quer que ele vá. Não termino a minha vida sem conhecer todas as fronteiras do axé. Sou 100% axé, 100% micareteira. o// E estou gritando pro mundo inteiro ouvir: Eu amo o axé