quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Seja bobo você também!


Existem pessoas por aí que acreditam que não precisam estampar o sorriso na cara para qualquer um que se tromba ao dia, que não precisam usar e abusar da educação até mesmo com um estranho, que não precisam se preocupar com a opinião, impressão e sentimentos alheios, que não precisam se dedicar a serem bons dia após dia. Vivem por viver. Vivem pra si e nada mais. Vivem porque nesse mundo estão e só pensam em seguir adiante com o que já tem, nunca pensando no que podem ter de melhor se usufruírem de compaixão, compreensão e gentileza cada dia mais. Vivem acreditando que a maturidade atual já é suficiente. Vivem na base da comodidade e não na expectativa de possíveis vitórias além. Vivem na ignorância de pensar que o mundo lá fora é grande demais para doar o melhor de si a todos.
Quem já foi vítima de mau humor gratuito, de grosseria espontânea, de falta de educação em alto nível, de imaturidade constante, sabe bem como é frustrante reconhecer isso no outro mesmo quando não o trata da mesma forma. Dá pena de pessoas sem auto-controle, sem prudência e cautela. Conviver e principalmente, ter que aceitar um tratamento pelo qual jamais se usaria com alguém, é decepcionante. Eu, particularmente, me chateio muito quando tenho que engolir os famosos sapos. E não ajo assim não é só por educação não, é também por falta de capacidade pra revidar, responder. O que me ofende de imediato acaba me causando uma impotência. Não por fraqueza, pelo contrário. Não reajo justamente porque algo dentro de mim me impede de usar as mesmas armas pela qual a pessoa tenha me atingido. Um grito me assusta, me cala. Uma ofensa me magoa, me recolhe em lágrimas. Uma ingratidão me decepciona, me apaga. Uma briga me machuca, me incomoda. Tudo aquilo que é desentendido, me perturba, me chateia tanto que me faz perder as reações, me embala no silêncio e me entristece por dentro.
Há quem não entenda, pense que sou boba, fraca, chorona ou exagerada, daquele tipo que faz tempestade em copo d’água. Felizmente sei que passo longe de ser boba, porque como já dizia Clarice Lispector, “O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem (...) O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver (...) Os espertos ganham dos outros. Em compensação, os bobos ganham a vida.” Sei também que passo longe de ser fraca, pois é nas dores e decepções que se aprende o quanto é forte, e esse tipo de aula eu já tive demais e continuo tendo, sem aprender não se vive bem. E exagerada admito que sou, mas como sei que existe escolhas para o melhor ou pior, optei para abstrair meu exagero em tudo o que é bom, verdadeiro, como por exemplo, a educação e prudência que falta para muitos ao lidar com a convivência. Tempestade em copo d’água eu faria se rendesse gritos, se rendesse grosserias e ofensas. Jogar o jogo da falta de educação e pagar na mesma moeda não me daria direitos pra pensar que quero e consigo ser melhor do que quem algum dia me feriu com pouco. Afinal, gritos, ofensas, imaturidade, falta de controle, insensatez, brutalidade, violência nas palavras ou até em ações é pouco, muito pouco. Eu quero e gosto do muito. Muita educação. Muita bondade. Muita gentileza. Muito sorriso. Muita maturidade. Muita cautela. Muita compreensão. Muita compaixão. Muito carinho. Muito amor. Muita verdade no olhar. Muitos valores que a rudeza desconhece. Pagar na mesma moeda não paga, só cobre ou rende mais juros. Admiro quem liquida. E para liquidar, só se for com mais, só se for com o muito!
Não gosto, não aceito, não concordo e não sei digerir o pouco e o ruim. O que é mau, me faz realmente muito mal. Dentro de mim e de tudo que aprendi e tenho orgulho em ser, viver e transmitir, é o inverso ao que ás vezes tenho que aprender a aceitar de certas pessoas que não conseguem doar o melhor para assim cultivar mais disso. Estirei minha bandeira branca para todos aqueles que se esqueceram dos muitos valores que realmente alimentam a alma. Estendi a mão para todos aqueles que já vivem pela paz e pelo muito que ainda se deve cultivar. Abri os braços para todos que querem largar o menos e praticar o muito. E para quem ainda não consegue perceber o quanto o menos machuca e o quanto o muito faz bem, deixo mais palavras de Clarice atingir vocês: “É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.”
Seja bobo você também!

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