O cheiro da chuva, o cheiro da madrugada, do amanhecer, da mata, do mar,
da terra molhada... Não sei vocês, mas eu se pudesse, passaria horas
pela janela, sentindo ao fechar os olhos, vivendo sem o toque. O ouvir e o exalar, muitas vezes causam mais sensações do que todos os sentidos juntos. Assim como sentimos a brisa sem vê-la, também podemos experimentar a doçura de essências naturais,
tão abandonadas, ou até generalizadas. Todo dia é dia. De presenciar
com a mesma paixão da primeira vez. Todo dia é dia. De valorizar com a
mesma admiração da segunda vez. Todo é dia. De desfrutrar com o mesmo
fulgor da terceira vez. Quanto mais se tem do que se gosta, mais se
quer, até que chega um ponto onde a repetição cria resistência em alguns
corações, ou na falta deles. Perder o brilho só porque parece rotineiro
não me parece coisa de quem realmente aprecia, sabe sentir, sabe amar.
Quem tem coração, coração de verdade, e não pedra ocupando espaço, quem
tem, realmente guarda o que se bem quer. Assim como espetáculos da
natureza são esquecidos e desapreciados dia após dia, as pessoas também
perdem seu valores, andam como latas que depois de um tempo, com alguns
arranhões, amassos e perdas, são largadas, esquecidas, chutadas,
consideradas lixo. Isso é engano. Engano de quem não sabe amar. Engano
de quem não sabe ser amado. Engano de quem vive prosmicuidades
acreditando que isso é vida, liberdade e modernidade. Desde quando os
padrões de um século fazem pessoas melhores, corações puros,
relacionamentos eternos, paixões e admirações que não se perdem com o
tempo? Valores deturpados, sensações sendo chamadas de sentimentos, e
desejo fútil sendo chamado de amor. Por acaso alguém tem mesmo certeza
de que essa banalização é fórmula de sucesso? Quem tampouco se rende aos
próprios sentidos e as ardências naturais de um puro coração que clama,
tampouco alcançará plenitude em outros tetos, olhares e braços. Quem
tampouco sabe de si, tampouco saberá de outro. Um outro tanto quanto
igual, incompleto e em destroços, jamais completará, serão apenas 1 + 1
que resultará em ainda menos que 1. Só há complemento, em si mesmo, por dependência de um Pai lá do alto.
E só há acréscimo, entre um e outro que já são completos por si mesmos.
Enquanto ainda está difícil entender ou se encontrar, vá na janela.
Sinta. Insista. Se delicie com o que ainda é puro, exale, aprenda com a
criação, apegue-se no que não se desfaz, inspire-se no que é constante.
A formosura de toda uma natureza, tão singela, e sempre tão mais vasta
que qualquer coração, é capaz de nos ensinar, nos reeducar e nos fazer
voltar-nos a uma origem de completa liberdade através do Único Ser
perfeito. Vá! Saia da zona de conforto, se jogue! O amanhã é incerto,
ninguém nasceu pra ser lata rolando morro abaixo, nascemos todos para
sermos vasos de honra, sempre intactos e prontos a receber mais de tudo
aquilo que alimenta e revigora. Assim como a chuva te espera para uma
dança única, uma vida plena também te espera para tudo o que será único,
e não mais passageiro, mas eterno e pleno. O que passa, é apenas nós, o
que fica, é o que nos aguarda!