sexta-feira, 19 de março de 2010

Parte XVI: O mais estranho amor da minha vida

Acordei meio atordoada como se algum sonho tivesse sugado minhas energias e últimas lembranças, eu não me recordava de ter dormido. Olhei ao redor para identificar onde estava e reconheci o quarto de Danton. Remexi junto às almofadas incrivelmente macias que estavam em volta de mim e notei que Danton estava ao meu lado, ainda adormecido, com uma linda expressão no rosto de quem estaria sonhando com algo muito bom. Fiquei alguns minutos só admirando-o, desejando que não acordasse e visse minha cara de apaixonada que no mínimo eu deveria estar. Notei que ele tinha trocado o pijama amarrotado de antes por uma calça jeans e uma camiseta cinza. Seu cabelo estava molhado, dando a impressão de ser mais preto do que normalmete é, e totalmente atrapalhado de um jeito que ainda assim conseguia deixa-lo lindo. Percebi que já deveria ser mais tarde do que eu pensava, pois enquanto eu dormia Danton já tinha tomado banho, se deitado ao meu lado, pegado no sono também e mesmo assim não acordei. Fui saindo da cama levemente tentando não fazer o mínimo de movimento para não acorda-lo:
- Amor, tudo bem? Onde você ta indo?
Soltei o peso do meu corpo sobre a cama me sentindo derrotada pela voz de Danton. Eu não conseguia nunca escapar ou ganhar dele em alguma coisa. Virei-me para encará-lo e não consegui me conter. Minhas pernas bambearam ao analisar o rosto dele. Vi uma expressão preguiçosa, dava vontade de apertá-lo. Seus olhos negros, brilhantes, estavam pequenininhos ainda lutando para sair do sono. E sua boca brincava prazerosa com um mero sorriso delicado. Não pensei duas e nem uma vez. Atirei-me em seus braços. Ele me recebeu alegremente e me aconchegou em seu peito enquanto acariava meus cabelos e me dava um singelo beijinho na testa. Momentos como esses me faziam imaginar se esse cara existia mesmo, e principalmente, se ele estava comigo, interessado em mim, logo em mim, que nunca atrai grandes atenções, muito menos de caras como ele.
O silêncio não era constrangedor, os carinhos, o calor entre nós, já dizia muito. Não tinha como fugir, não tinha mais como negar, eu estava caida de amores por Danton e não queria perdê-lo mais, nem por um mês, nem por um dia, nem nunca:
- Linda você tá com fome? Você dormiu bastante, e ta aqui em casa há horas, vou la na cozinha preparar algo pra você ou posso pedir uma pizza se quiser, o que acha?
Tirei meu rosto de seu colo, repousei meu queixo em seu peito e olhei pra ele. O sorriso nunca largava do rosto dele, já era peça essencial em sua beleza e eu sabia que não conseguia mais viver sem isso:
- Eu acho que você deve ficar quietinho aqui comigo.
- Mas Paula, meu amor! Você tem que comer algo.
- Não, meu coração é o único que tem fome. Fome de você!
O sorriso de Danton se alargou mais nesse momento, não sei como, mas conseguiu ficar mais lindo do que nunca. Seus olhos brilhavam com uma intensidade que me fazia mergulhar neles. Quando dei por mim já estava deitada na cama com Danton colado em mim me olhando como se nunca tivesse me visto:
- Pela primeira vez fiquei sem saber o que responder. Não esperava por isso, não acreditei que conseguiria te convencer que pode confiar em mim, no meu amor. Você é minha vida agora Paula, e meu coração é todo seu, para todo o sempre.
Antes que eu pudesse responder, ele me envolveu em um beijo doce e abrasador ao mesmo tempo. Meus pulmões pareciam esquecer de respirar e meus olhos estavam úmidos mesmo fechados. Ele não se atrevou a nada mais comigo, já tinhamos conversado sobre tudo isso horas antes de eu dormir e combinamos de que tudo teria seu tempo para nós dois, mas obviamente ele mais falou e eu escutei, não teria tido coragem para ficar esclarecendo detalhes de um relacionamento que ainda iriamos começar.
Nossos beijos pareciam ser viciantes para ambos. Quanto mais a gente se beijava, mais queriamos eternizar a vida naquele momento. Quando enfim resolvemos desgrudar um pouco, deitamos um do lado do outro:
- Danton, quantas horas?
Ele procurou o celular debaixo do travesseiro e olhou o horário:
- São 10 pras 3 da manhã.
- Quê?????? Como assim???
Pulei da cama e comecei a procurar meu tenis pelo quarto. Não conseguia pensar em mais nada além de que eu precisava estar em casa. Meus pais deviam estar furiosos, preocupados, colocando polícia atrás de mim. Eu iria ganhar um castigo de anos, trancada dentro do quarto. E quanto mais eu pensava, mais eu me movia descordenamente pelo quarto e nada de encontrar meu tenis:
- Linda. Tá tudo bem, vem cá. Fica calma! Eu já tinha ligado para sua casa e avisei sua avó que você está comigo, prometi que cuidaria de você e acima de tudo que te respeitaria. Ela me deu um crédito e disse que iria dizer aos seus pais que você ia dormir na casa de uma colega sua de colégio, tal de Cláudia.
Meu cérebro não queria processar bem o que meus ouvidos acabavam de escutar. Senti que estava boquiaberta, parada ali no meio do quarto enquanto Danton sentado na cama sorria para mim, claro, como sempre, e sendo meu herói daquela noite. Como ele conseguia ser assim tão tranquilo, responsável e com total equilibrio? Senti-me meio envergonhada pela cena de loucura que dei atrás dos meus tenis, por acaso sumidos. Sentei na beirada da cama de frente pra Danton:
- Obrigada!
Era a única coisa que eu conseguia dizer de volta. Ele ainda sorrindo veio na minha direção e me abraçou. O mundo parecia ficar tão mais lindo, em paz e fácil quando eu estava em seus braços. Daria tudo pra estar ali todos os dias, acreditando que a vida podia ser bem mais simples:
- Quero conhecer sua avó depois ta? Ela foi muito simpática e gentil comigo. E tenho que agradecer pelo voto de confiança ne? Mas, sinceramente, eu quero conhecer seus pais também, seu cachorro, sua vida.
Enquanto ele dizia ia mexendo em meus cabelos e eu sentia meu coração palpitar a cada palavra que ele soltava:
- Também quero conhecer sua família.
Notei que ele ficou imóvel e mudo depois do que eu disse. Dei uma cutucada na barriga dele pra ver se ele reagia e ele sorriu meio sem graça:
- Desculpa linda, é que minha família anda tão maluca, uma fase difícil pra todos nós.
- Você nunca me contou sobre o que aconteceu desde daquela época que você foi a Paris por causa do seu tio.
Fiquei meio envergonhada, sem saber se poderia já ter esse tipo de liberdade com ele, perguntar dos problemas familiares, mas arrisquei, tentei ser mais amorosa e mais interessada na vida dele. Ele me puxou para trás, nos deitamos na cama, me aconcheguei em seus braços e esperei que ele começasse a me contar finalmente o motivo que fez tudo virar um mistério.

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