sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Parte III: O mais estranho amor da minha vida

Continuação, á pedidos. Texto para o blog: Amores-cruzados

Mais um dia nascia e junto com ele vinha toda a minha alegria e disposição que tinham fugido de mim durante anos ao acordar para ir para o colégio. Ao me sentar na cama para espreguiçar direito e dar bom-dia ao sol, notei que havia dormido com os dois pedaços de papel na mão, aqueles que o estranho menos estranho havia me dado nos meus anteriores melhores dias. A rosa também estava ali, em cima do criado ao lado da minha cama, em um copo longo e cheio de água que coloquei para mantê-la viva perto de mim por mais tempo. Então, soltei os bilhetes que estavam em minha mão ao lado do computador, em cima da escrivaninha, e fui abrir as cortinas da janela para admirar o sol. Mas tive uma bela decepção, pois o sol tinha esquecido de nascer aquele dia para mim. No lugar dele havia um céu nublado e muito escuro, gotas pequenas escorriam pelo vidro de minha janela e eu fiquei perdida em meus pensamentos já pensando que meu novo dia talvez estivesse mais uma vez arruinado por acontecimentos do destino que insistiam desde ontem em atrapalhar meus planos. Antes de tudo, arrumei a mochila no maior mau humor, troquei de roupa, coloquei um casaco e enfiei de uma vez um guarda-chuvas dentro do bolso lateral da mochila e desci para a cozinha onde vovó me aguardava como todas as manhãs. Tomei meu café o mais depressa que pude e assim que larguei a caneca na pia, vovó me surpreendeu:
- Por que está com essa pressa toda e mais esse mau humor no rosto querida?
Será mesmo que eu não podia passar despercebida quando mais precisava disso? Será que ela não podia simplesmente notar os dias em que eu estava mais feliz do que de costume? É... Acho que não:
- Nada vovó, só dormi mal e estou com medo de me atrasar para a aula por causa da chuva.
Eu menti mesmo sabendo que não devia. O que eu menos queria naquele momento era toda uma interrogação como só vovó sabe fazer até encontrar no meio das minhas péssimas respostas o real motivo dos meus sentimentos.
Antes que ela pudesse dizer algo mais eu já estava na escada. Terminei tudo lá em cima o mais rápido que pude e desci, me despedi de vovó na porta e abri o guarda-chuvas quando me coloquei a enfrentar aquele dia mais frio e nebuloso. A garoa estava fina, mas não deixava de molhar quem insistisse em andar debaixo dela. Em poucos minutos cheguei à escola. Dessa vez, em ponto. Entrei na sala junto com o professor de português. Acomodei-me em minha carteira ao fundo e durante os cinco horários em que estive dentro de sala, viajei nas janelas, concentrada na chuva e torcendo para que ela parasse logo. O sinal para o último horário bateu e voei para fora de sala fechando minha mochila as pressas. Escondi-me no banheiro e assim que as turmas mais novas começaram a sair – eles não têm sexto horário – me infiltrei no meio deles e sai para o portão afora. Respirei fundo e fiquei aliviada, enfim eu tinha conseguido escapar e estava indo ao meu encontro. Foi quando escutei um trovão bem forte á minha direita e assim que olhei pro céu, a chuva começou a cair como se eu tivesse pedido por aquilo. Olhei pra todos os lados na esperança de encontrar um lugar próximo para me esconder, mas nada havia ali a não ser casas e vários portões trancados. Puxei minha mochila pra pegar o guarda-chuva que já não ajudaria muito. Mas vasculhei todos os bolsos e até dentro dela onde havia os livros, mas o guarda-chuva não estava ali, eu realmente tinha esquecido ele debaixo da minha carteira, afinal, sai com muita pressa da sala. No estado em que eu já estava só me restava correr e chegar logo onde devia ir. Quando estava virando a última esquina que dava na ponte, uma mão me puxou pelo pulso, fazendo com que eu parasse bruscamente sob a calçada batendo no peito de alguém que estava segurando um enorme guarda-chuva. Olhei para a pessoa e reconheci meu querido estranho. Ele me olhava com um delicioso sorriso e o brilho de seus olhos parecia brincar com o que estavam a observar. Senti-me a mais patética de todas ali parada tão próxima dele e completamente ensopada. Eu pingava dos pés a cabeça e agora já recuperando o fôlego, comecei a sentir uns arrepios subindo pela minha nuca, pois o vento que batia em mim não estava sendo amigo, pelo contrário, ele era meu inimigo, o frio não iria me abandonar nessas circunstâncias em que me meti:
- Você realmente deve estar congelando nessas roupas pesadas e molhadas, me deixe te levar em casa, se ficar aqui nesse vento frio, amanhã não terei chance de te ver.
E ele soltou mais um daqueles lindos sorrisos que me faziam perder o equilíbrio. Eu estava me segurando pra ser firme quando precisasse encontrá-lo, mas agora que estava sendo totalmente real, não me contive e já não sabia mais dizer se estava tremendo de frio ou de nervosismo:
- Me levar pra casa? Mas... Como?
Só depois de soltar minhas bobas e trêmulas palavras que notei a grande burrada que eu estaria fazendo. Eu nem sabia o nome dele, não conhecia nada sobre ele na verdade e eu não podia ir para casa, como explicaria a minha avó o motivo do meu banho de chuva e também por que não estaria naquele momento na minha última aula? Ele me olhava com ar de curiosidade, acho que minha expressão denunciou que eu não estava de acordo com aquilo:
- Sei que você ainda deve ter suas dúvidas e receios sobre mim, mas, por favor, não me deixe pensar que por minha culpa amanhã você pode estar de cama e sem poder vir me encontrar.
O brilho dos olhos dele parecia cada vez maior à medida que ele falava. Eu estava sendo dominada por todo aquele momento e por tudo que ele fazia ou dizia:
- Mas vai me levar pra casa como?
Ele olhou nos meus olhos, pegou na minha mão e me induziu a passar o braço pela sua cintura, assim eu estava abraçada a ele totalmente protegida da chuva debaixo daquele guarda-chuva tamanho família. Ele foi caminhando comigo ao seu lado, atravessou a rua, contornou um Honda Civic que estava estacionado ao laço da calçada e abriu a porta pra mim:
- Estou toda molhada, não posso entrar ai.
Ele fez sinal com a mão para que eu entrasse mesmo depois do que eu disse e eu certamente não conseguia recusar nada, entrei. Fiquei observando ele contornar o carro novamente até chegar à porta do motorista e entrar. Eu estava sentada desconfortavelmente na poltrona ao lado dele preocupada com o estrago que minha roupa molhada faria no estofado do carro dele. Invés de ele ligar o carro, ele sentou mais inclinado para a direita em minha direção e se pos a me olhar:
- Então, será que posso ao menos saber o nome da minha linda admiração?
Aquelas palavras produziram um fervor nas minhas bochechas. Eu queria entender como eu poderia ser a nova admiração dele sendo que eu era uma menina totalmente comum, e que mal conseguia se dirigir a ele com classe nas palavras como ele fazia comigo:
- Paula, e o seu?
Ele parecia meio absorvido em suas próprias idéias depois que ouviu meu nome:
- Paula? Já ouvi falar que pessoas com esse nome têm o lema de permanecer sempre ao lado de quem precisa de ajuda, considere-se então assim mesmo, pois vou precisar muito de você a partir de hoje. Mas, muito prazer. Me chamo Danton.
O que afinal ele queria dizer quando afirmou que precisa de mim? E além de conseguir ter todo um controle sobre mim devido a sua incrível elegância ele também era culto e sabia até mesmo significado dos nomes? Ou será que ele era algum tipo de espião e estava me tomando como obsessão doentia? É... Eu já estava viajando e ele ali, parado, olhando pra mim, esperando uma resposta:
- Ah! Muito prazer também!
Foi o máximo que consegui. Ele devia estar pensando que eu era uma anti-social:
- Mas me diga Paula, onde você mora? Já estou fazendo você ficar tempo demais com essas roupas molhadas.
Pensei comigo mesma se deveria ou não dar meu endereço, mas eu já estava dentro do carro dele e não tinha como sair, a chuva lá fora só apertava cada vez mais, então soltei o endereço pra ele e fiquei quieta na minha, observando a chuva batendo na janela e escutando a música que tocava no rádio que ele havia ligado. Acho que ele notou que eu estava mais uma vez viajando em meus pensamentos como na primeira vez em que me viu então não quis interromper. Só fui olhar para ele novamente quando vi pela janela que já estávamos parados na porta da minha casa:
- Obrigada por me trazer, mas agora preciso ir antes que minha avó veja que estou chegando com um desconhecido.
Ele pegou na minha mão e dessa vez eu percebi como a dele era quente e macia. Fiz menção de quebrar aquele momento, mas ele deu um aperto firme em meus dedos e levou minha mão até próximo de seu rosto dando-me um beijo carinhoso. Congelei por dentro naquele momento como se só por fora já não bastasse.
Danton me olhava fixamente parecendo estar esperando alguma reação minha, mas eu estava imóvel imaginando qual seria o próximo passo dele. E então, ele realmente tomou mais uma vez a iniciativa. Com a outra mão ele afastou os fios de cabelo molhados do meu rosto e chegou mais perto de mim, olhando bem nos meus olhos:
- Você é linda sabia? E seu cheiro é melhor do que eu podia sonhar.
Eu queria fugir dali, queria me esconder no meu quarto e tentar brigar com meus próprios pensamentos até descobrir por que ele mexia tanto comigo a ponto de eu ficar sem ação nenhuma, seja pra corresponder, ou seja, pra fugir.
Ele deve ter tomado meu silencio como algo positivo, pois ele foi se aproximando cada vez mais até colar seus lábios próximos de minha orelha e foi movimentando eles ali em minha bochecha até chegar perto de minha boca, e foi nesse momento que meu coração saltou tão forte que consegui reagir a ponto de assustá-lo. Peguei minha mochila ao chão do carro, abri a porta e sai para a chuva:
- Te vejo amanhã.Essa foi à única coisa que consegui dizer enquanto meu coração ainda pulava aflito. Não consegui nem mesmo entender como dei aquela ultima resposta para ele. Eu estaria mesmo maluca. Fugi dele e ao mesmo tempo eu tinha acabado de afirmar que estava aceitando vê-lo novamente. Não ousei olhar pra trás, mas também não escutei o motor do carro sendo ligado. Ele devia estar esperando eu entrar em casa para se certificar de que eu não tomaria mais chuva como assim era a vontade dele. Vovó não estava no andar debaixo e fiquei aliviada por isso. Subi correndo pro quarto, joguei a mochila em um canto, catei a primeira muda de roupa seca que vi pela frente e fui para o banheiro tomar uma ducha quente e me perder em meus pensamentos que estavam me matando por tudo aquilo que tinha acabado de acontecer.

3 comentários:

Meus desabafos :) disse...

perfeito *---*

Beatrix disse...

Delssssssssss..continua...é td tão misterioso e envolvente...*-*

quando voltar para a net,tem mais historia,selos pra vc ..lá no meu blog..

bjokas;*

Paulinha. disse...

:OOO
primeiro, chuva *-*
segundo, o nome dela é Paula ! :D
que maaaara.
Eu também quero um Danton o/
perfeito como de constume ;)